TERRA DE CIGANOS estreia nos cinemas dia 26/9
Eles viviam num acampamento debaixo da terra. Um dia, a curiosidade levou um deles ao final do túnel, onde descobriu o vasto mundo lá fora. Decidiram sair, e com isso pagar o preço de não ter mais morada fixa. Saíram para virar nômades e adivinhos.
Essa é uma das lendas de origem do povo cigano, contada na abertura do filme Terra de Ciganos, de Naji Sidki, cineasta filho de pai refugiado palestino que emigrou para o Brasil. Dali em diante, o documentário se lança na estrada em busca de comunidades ciganas em diversas regiões do país. O eixo narrativo são as músicas: canções e violadas de cunho melancólico que ajudam a contar a história de uma etnia marginalizada na vida brasileira.
Segundo o material de divulgação do filme, o Brasil é o lar da terceira maior população cigana do mundo, com aproximadamente 800 mil membros das etnias Rom, Sinti e Calon. Eles vagueiam principalmente pelos estados do Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. No filme, compartilham relatos de sofrimento, discriminação e falta de solidariedade por parte dos não ciganos. Muitos já deixaram as barracas do nomadismo e se fixaram em casas de alvenaria. Os mais jovens adequaram-se aos tempos de Whatsapp.
Mas Terra de Ciganos não se atém à etnografia. É um road movie musical que prefere se guiar pelos compositores, músicos e cantores que se expressam com as sonoridades e os idiomas ciganos. É claro que, em ambientes predominantemente rurais, esses estilos em muito já se mesclaram com o sertanejo, por exemplo.
A pesquisa, empreendida pelo diretor e a produtora executiva e corroteirista Kátia Coelho, localizou artistas e comunidades singulares, que foram filmadas com esmero. Tanto Naji Sidki quanto Kátia Coelho são experientes diretores de fotografia. O roteiro inclui algumas encenações que, embora ingênuas, ilustram um pouco do modus vivendi dos ciganos. Assistimos, entre outras coisas, a uma divertida negociação em torno de uma égua, à longa caminhada de um grupo em busca de “rancho”, ao encontro de um coletivo artístico com a trupe de um crico e à cata de clientes para leitura de mãos no centro de São Paulo.
O documentário se ressente de uma montagem complacente demais com a duração de muitas cenas. Canções na íntegra e tomadas estendidas além do necessário quebram a dinâmica do filme e parecem “sobrar”. Da mesma forma, a estrutura de music video adotada em muitas sequências parece um tanto aleatória, com signos e territórios que não dialogam entre si. Um casamento cigano, anunciado a meio caminho, frustra nossa expectativa de vê-lo acontecer.
Não sei até que ponto esse retrato dispersivo contribuirá para a intenção do diretor de “apresentar e valorizar a sua cultura em diferentes regiões do Brasil e, assim, amenizar o grande preconceito existente contra esta comunidade”. Até mesmo porque, em certa medida, os ciganos se fecham em suas bolhas. A ausência de legendas nas canções cantadas nos seus idiomas, por exemplo, se explica pelo desejo de manter os significados restritos ao grupo. De qualquer maneira, Terra de Ciganos é um painel colorido e sugestivo desse povo que se intitula “reis do nada” e ao mesmo tempo “perfume da Terra”.
>> Terra de Ciganos estará nos cinemas a partir de 26 de setembro.





