ASSEXYBILIDADE
Quanto ao tal “lugar de fala”, ninguém pode criticar Assexybilidade, filme pensado e dirigido por Daniel Gonçalves, cineasta portador de distonia muscular que desfruta de uma vida sexual ativa. Do autorretrato filmado em Meu Nome é Daniel ele parte agora para uma investigação mais geral sobre o amor e o sexo entre pessoas com deficiência.
Assexybilidade é um manifesto contra o capacitismo, o preconceito segundo o qual os “defs” (como eles se chamam) seriam incapacitados para a vida – e para o sexo. Daí a assertividade com que os personagens se expressam a respeito de suas intimidades no namoro e na cama.
Tal como a variedade de deficiências abordadas, são também diversificadas as abordagens. Há os que apontam a desumanização com que são vistos no quesito da aparência física e os que exploram sem constrangimento os fetiches de suas particularidades corporais. Há tanto os que se divertem com a dificuldade para tirar a roupa ou abrir um envelope de preservativo, como os que se orgulham de poder transformar a desvantagem em vantagem na hora H.
Na pesquisa de personagens (a cargo de Nathalia Santos) nota-se a preocupação em trazer heterogeneidade em matéria de gênero, raça e opções sexuais. Embora o filme seja dominado pelas cabeças falantes e não arrisque uma maior exposição gráfica do seu tema, não faltam os interlúdios performáticos que têm marcado presença obsessiva nos documentários brasileiros contemporâneos.
A dança, a cena BDSM e a reivindicação de uma ancestralidade “def” se juntam às entrevistas num projeto assumido de desconstrução de mais uma forma de normatividade na esfera do sexo. Eis uma fronteira que ainda encontra resistências na prática social e que esse filme, em boa medida corajoso, quer ajudar a transpor.
>> Assexybilidade está nos cinemas.Na cama com os “defs”

