MARIAS
De Maria Prestes (pseudônimo de Altamira Rodrigues Sobral Prestes) a Marielle Franco, passando por Olga Benário e Dilma Rousseff, o documentário de Ludmila Curi propõe uma linhagem de bravas mulheres que representam o melhor da consciência política brasileira. Já na largada, diante das imagens de Maria Bonita, a narração da diretora assume um tom feminista para questionar a ideia corrente de que as grandes mulheres públicas agiam “como homens”, ou atuavam por simples paixão pelos seus companheiros.
Marias adota um formato pouco coeso para recontar a história da companheira de Luís Carlos Prestes. Ora temos sua neta no papel da avó, no período em que ela começou a viver com o Cavaleiro da Esperança na clandestinidade. Para evocar a estada do casal na Rússia, Ludmila viaja a Moscou e Volgogrado (ex-Stalingrado) em busca de ecos do passado soviético. Já a luta de Maria Prestes (1932-2022) pela reforma agrária é lembrada em cinco anos de convivência da diretora com ela, incluindo visitas a acampamentos do MST no Nordeste.
O que logo intriga o espectador é a ausência total da imagem e mesmo da voz de Maria. Ali está um personagem de quem apenas se fala, embora se perceba que ela está presente em muitas cenas, mas sem aparecer ou se fazer ouvir. A razão para isso será revelada perto do final. A contingência virou dispositivo, por estranho que possa parecer.
A narração muito explicativa de Ludmila passa pelos tempos da Coluna Prestes e a longa prisão do seu líder, os golpes de 1964 e 2016, chegando até o assassinato de Marielle Franco. Se a eclipse de Maria Prestes deixa uma lacuna no filme, certa compensação vem com uma das melhores falas de Marielle que já ouvi. Numa reunião descontraída com amigos, ela dá uma bonita lição de estratégia política e deixa patente seu imenso carisma.
É em Volgogrado que Ludmila vai encontrar a simbologia mais grandiosa de suas Marias guerreiras. A maior estátua feminina do mundo é a Mãe Pátria, comemorativa da vitória soviética na Batalha de Stalingrado. Um mega-ícone para coroar um filme mais celebratório que qualquer outra coisa.


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