O czar do cinema
por Paulo Lima
O cineasta holandês Jan Teunissen exerceu no seu país ocupado pelos nazistas o papel que Leni Riefenstahl protagonizou na Alemanha. Com seus filmes, ambos colaboraram com a divulgação das ideias do Nacional-Socialismo.
A história de Jan Teunissen é contada no documentário O Propagandista (The Propagandist), dirigido por Luuk Bouwman, tendo como dispositivo vasto material de arquivo, entre imagens e áudios do seu principal personagem e dos filmes que produziu em nome do partido nazista da Holanda.
O eixo narrativo são as entrevistas em áudio que Teunissen concedeu ao historiador Rolf Schuursma, entre 1964 e 1965, bem como as pesquisas feitas pelo historiador Egbert Barten sobre o cinema holandês durante a Segunda Guerra.
Nascido em família abastada, Jan Teunissen era um cineasta experiente quando começou a atuar como montador dos filmes dos cineastas judeus que fugiram da Alemanha. Depois que esses judeus foram expulsos, ele se tornou chefe do serviço cinematográfico do partido nazista holandês, com amplos poderes, daí ter sido chamado de o “czar do cinema”, epíteto que ele revela entre gargalhadas nas entrevistas.
Como “czar”, concedeu oportunidade a outros cineastas. Participou de reuniões com alguns nomes proeminentes da cúpula do partido nazista alemão, como Goebbels, Göring e Himmler. Conheceu a própria Leni Riefenstahl, a quem descreveu como “um pouco vesga”.
Apesar de seu envolvimento, ele negava que tivesse aderido à ideologia nazista ou sido antissemita, embora as imagens mostrem seu livre trânsito e a proximidade com os líderes do partido nazista holandês. A exemplo de Leni Riefenstahl, que passou a vida negando desconhecer o horror nazista.
Teunissen morreu em 1975, aos 77 anos, depois de ter passado um período na prisão. Dois dos cineastas que lhe foram mais próximos durante a guerra, Bob Kommer e Reinier Meijer, também negaram que trabalharam para Teunissen, apesar das provas flagrantes, e no futuro prosseguiram em suas atividades, com êxito.
The Propagandist constitui um testemunho de como certos homens movidos por ambição aceitam fazer o jogo da barbárie. A história continua pródiga em exemplos.
Paulo Lima

