Luz del fuego
Para Carlos Adriano, a metragem curta é algo que o anima não a dizer menos, mas a significar mais. Ele constrói seus curtas por acúmulo de ideias, referências e materiais visuais que circulam entre o cinema e as emoções pessoais. Há sempre um vestígio de drama íntimo insinuando-se em sua poética.
Sem Título #10: Ao Re dor do Amor é o 10º tomo de uma série chamada “apontamentos para uma autocinebiografia (em regresso)”. Trechos de mensagens do whatsapp sugerem um romance entre o autor e um personagem identificado apenas por iniciais. Imagens de ressonância magnética do coração de Adriano são incapazes de dizer o que ali de verdade se passa.
E o que seria, então, essa ideia de amor que o filme estilhaça em tantos pedaços?
Luz, para começo de conversa. Mas também fogo. Luz del Fuego poderia estar ali também.
Até bem pouco tempo os projetores cinematográficos funcionavam à base de uma chama. Este é um filme em combustão, que vai da delicadeza dos vagalumes ao furor de vulcões e geisers em erupção.
O amor seria um fogo que devora tudo: a paz de Ingrid Bergman em Stromboli, a fita de celuloide de Persona, as terras ao re dor do Etna embrasadas pelas tempestades de lava. Fulgurações sob intensa fúria sonora – ou no silêncio em que Zampanò finalmente contempla o céu em La Strada.
“Mas como é possível o amor?”, pergunta-se o poeta Hölderlin numa das várias citações literárias enfileiradas no prólogo. “Amar, depois de perder”, receita Carlos Drummond de Andrade. Fica, então, esse minueto pseudo-romântico como mais uma cintilação dos cinepoemas de um autor singular.


