OS DRAGÕES
Acompanho com interesse a carreira de Gustavo Spolidoro. Aprecio demais seu documentário Morro do Céu, a cujos personagens o diretor dedica agora Os Dragões, filmado na mesma bucólica cidade gaúcha de Cotiporã. Curto muito também o ousado Ainda Orangotangos, longa filmado num único e virtuosístico plano-sequência. Mais recentemente, Spolidoro experimentou com razoável acerto o filme infantil em Uma Carta para Papai Noel.
Sinto-me, portanto, à vontade para dizer que Os Dragões não está no mesmo nível dos trabalhos citados. Dirigido à plateia adolescente, esse filme lida com realismo fantástico e horror corporal, tentando articular com esses elementos uma crítica ao conservadorismo de uma pequena cidade gaúcha. O roteiro se baseia em quatro contos do mineiro Murilo Rubião, escritor que há pouco chegou às telas em Girassol Vermelho. Caminho aberto para o absurdo, mas também cheio de riscos.
Os dragões são cinco adolescentes que fazem teatro e, de uma hora para outra, veem estranhos fenômenos aparecerem em seus corpos. Suas bocas viram lança-chamas, como dragões. Logo são demonizados pela igreja, a polícia e os caretas da cidade. O esboço de sátira política soa bastante ingênuo, ao passo que os dilemas da turminha se atropelam sem muita clareza ou imaginação.
A presença de uma morta-viva e a interferência de um pequeno circo são elementos que não se ajustam bem à história principal. Além disso, a fragilidade do elenco, os diálogos pouco fluentes e a filmagem pouco dinâmica tampouco contribuem para que a fábula chegue a bom termo. Diante disso, a boa qualidade da fotografia de Bruno Spolidoro é um alento na paisagem evocativa de Cotiporã.
>> Os Dragões está nos cinemas.

