Quem passa pela Rua do Ouvidor, no centro de São Paulo, não tem como ignorar a pulsação do número 63. Ali funciona há dez anos o Centro Cultural Ouvidor 63, a maior ocupação artística da América Latina. O documentário Ouvidor, de Matias Borgström, flagra momentos decisivos na história do Centro, desde a entrada dos primeiros ocupantes, em 2014, no edifício havia sete anos desocupado pela Secretaria de Cultura do estado. Quatro anos depois, o governo estadual fazia seguidas tentativas de corte de energia e reintegração de posse.
Foi em 2018 que a Ouvidor 63 ganhou um edital de patrocínio da Red Bull para sua segunda bienal de artes, realizada em um dos 13 andares do prédio, simultânea e criticamente à Bienal de São Paulo. O fato gerou dissidências internas e temores de que os “mundos possíveis” inventados pelos 120 artistas latino-americanos ali instalados fossem abastardados por uma multinacional.
O filme capta essas discussões e toda a vivacidade da ocupação com flashes sucintos de performances, reuniões, visitas de fiscais da defesa civil, de políticos e líderes de movimentos de moradia. A inserção de animações abstratas realça o colorido e a irreverência da arte produzida naquela utopia urbana tornada real.
A Ouvidor 63 se mantém independente dos próprios movimentos sociais e já conquistou status oficial de centro cultural. Ouvidor, o filme, é uma memória inestimável daqueles tempos de resistência.
