STELLA, VÍTIMA E CULPADA
A hora não é das mais favoráveis para rever as atrocidades que os judeus sofreram nas mãos dos nazistas. E talvez, para os próprios judeus, não seja lá muito agradável saber que muitos deles colaboraram para o Holocausto. Mas é isso o que se dispõe a contar Stella, Vítima e Culpada (Stella, ein Leben), baseada na história real de uma certa Stella Goldschlag.
Vivida com alguns exageros de ênfase pela atriz Paula Beer (Frantz, Undine), Stella é uma jovem cantora judia na Berlim dos anos 1940 que sonha em fazer a América. Desde o início, a personagem é caracterizada como alguém um tanto leviana, que flerta imprudentemente com oficiais nazistas e se arrisca explorando outros judeus na obtenção de passaportes falsos. Quando não consegue mais fugir ao cerco antissemita, acaba presa, espancada e levada a provocar a prisão dos seus pais. A partir daí, para sobreviver e tentar salvar a vida dos pais, ela passa a delatar judeus em colaboração com a Gestapo.
Não é o primeiro filme sobre esse dilema. Pasqualino Sete Belezas, de Lina Wertmüller, e A Espiã, de Paul Verhoeven, já pisaram nesse terreno com passos muito mais certeiros. O que o diretor Kilian Riedhof e seus corroteiristas fizeram é uma barafunda de personagens e decisões mal embasadas dramaturgicamente, deixando mais lacunas que pistas sobre o comportamento e a consciência de Stella. No capítulo das inverossimilhanças, além de marcas de ferimentos que desaparecem da noite para o dia, temos a moça fazendo ronda nas ruas sozinha e dando voz de prisão a outras pessoas judias em nome da Gestapo. Cenas sem qualquer intenção crítica sobre o patético da situação.
A produção tem cara de minissérie televisiva que tenha sido resumida num longa-metragem de duas horas com todos os clichês de praxe. Num estilo cheio de barroquismo, a câmera se mexe quase ininterruptamente, e a montagem se apressa em cortar daqui para ali por puro diletantismo. As cenas musicais levam esse modelo ao extremo, assim como a sequência infeliz em que Stella e seus amigos dançam alucinadamente enquanto Berlim é bombardeada.
Mais ofensivo ainda é como o filme se compraz em mostrar Stella sendo surrada barbaramente pelos interrogadores, culminando com a cena em que lhe extraem um dente. Não menos ultrajante é vê-la tirando prazer depois de ser forçada a fazer sexo com o namorado. Não era bem esse o mau comportamento que Cole Porter sugeria em Let’s misbehave, a canção favorita de Stella.
>> Stella, Vítima e Culpada está nos cinemas.

