por Paulo Lima
A música brasileira vez por outra foi sacudida por um feito extraordinário, um álbum, uma canção que mudou o curso de tudo.
Foi assim com Chega de saudade, marco inaugural da bossa nova. Assim com Alegria, alegria, saudando a tropicália. Assim com Clube da esquina no. 2” e o trem bão mineiro.
Foi assim também com Os afrosambas, fruto do encontro entre o violão de Baden Powell e a poesia de Vinicius de Moraes, ambos movidos pelos ritmos afro-baianos e a cultura do candomblé.
A história desse encontro e da construção do álbum histórico é o que conta o documentário Os Afrosambas: o Brasil de Baden e Vinicius, dirigido por Emilio Domingos e em cartaz na plataforma Max.
Dividido em atos, o filme percorre a gênese do álbum famoso, entrelaçando as raízes musicais, étnicas e antropológicas da guinada de Baden e Vinicius rumo ao cruzamento da cultura do samba com a cultura do candomblé e da capoeira.
Musicalmente, conforme evidenciam os muitos depoimentos que pontuam o documentário, os afrosambas são frutos de duas vertentes. Em seu aspecto harmônico, sofreram a influência do jazz. Mas a estrutura rítmica é africana.
O documentário esmiúça a confluência de fatores que levaram a esse alinhamento de interesses entre Baden e Vinicius por esse Brasil baiano, cuja base afro está na raiz do que se produziu de mais relevante na nossa música, do samba à bossa nova.
Outros atos do documentário se debruçam sobre as tumultuadas sessões de gravação do álbum – realizadas num dia de dilúvio no Rio de Janeiro, sem qualquer ensaio, com o estúdio alagado -, sobre as repercussões críticas e seu legado para a música brasileira.
Na soma de fatos pitorescos e do histórico pormenorizado do nascimento dos afrosambas, surge um documentário vibrante sobre um momento da nossa grandeza musical.
Paulo Lima

