AMORES MATERIALISTAS
Celine Song, que parecia abrir uma vereda fresca na comédia romântica com Vidas Passadas, deu um passo atrás em Amores Materialistas (Materialists). Aqui ela inverte a fórmula do seu primeiro filme, tornando possível uma relação improvável. Mesmo que para isso um dos dois tenha que abdicar de tudo em que acreditava – ou pensava acreditar.
É nesse “ou” que reside o tantinho de graça que ainda anima Amores Materialistas. Lucy (Dakota Johnson), funcionária de uma empresa de matchmakers, expõe sólidas convicções sobre o que um solteiro procura em outro para viver um romance. Isso envolve proporções físicas, condições financeiras, alinhamento político e formação semelhante, entre outros quesitos que devem ser preenchidos pelos clientes. Haveria, então, uma ciência para isso. Coisa bem materialista mesmo. Um bom negócio, um bom investimento para o futuro.
Nada poderia estar mais distante dos ideais de algumas gerações atrás. Nada poderia estar mais próximo de uma concepção capitalista de felicidade. Lucy, a casamenteira eficiente, começa, porém, a ver seu tino falhar com alguns clientes. Mais que isso, começa a ver seu tino falhar consigo mesma ao se enamorar de um cara que preenche e até excede suas expectativas.
Por baixo da trama bobinha de um triângulo amoroso e das agruras profissionais de Lucy corre uma subcorrente levemente satírica sobre essa commoditização do amor em sociedades desenvolvidas que atuam em função de resultados. Lucy, e especialmente os clientes que aparecem nas divertidas entrevistas, são caricaturas do que existe de fato nos aplicativos de encontros. Sem falar no recurso adotado por um dos personagens para elevar seu valor no mercado dos relacionamentos.
Celine Song brinca com isso e pretende mostrar o seu reverso, mas é tudo muito previsível numa piada que se estica ao longo do filme para terminar da forma mais careta possível. Mais que tudo, é de espantar que tanta gente ainda faça questão de se casar hoje em dia. Materialisticamente ou não.
>> Amores Materialistas está nos cinemas.
