ALDO BALDIN – UMA VIDA PELA MÚSICA
por Eneida Santos
O pai sabia voar… e levar a gente junto… O pai tinha asa, duas asas, diz uma das filhas do tenor Aldo Baldin (1945-1994) à irmã, em um dos trechos mais tocantes do documentário dirigido por Yves Goulart, cineasta brasileiro e documentarista premiado. As filhas de Aldo, Serena e Sofia, quando pequenas na Alemanha, onde moravam, se aninhavam inebriadas sob o piano do pai enquanto ele cantava e tocava as muitas árias de ópera ou lieder que compunham seu vasto repertório.
Estamos falando de Aldo Baldin – Uma Vida pela Música, documentário recém-lançado nos cinemas do país, fruto de uma longa e minuciosa pesquisa de Yves Goulart, conterrâneo do tenor catarinense, natural de Urussanga, município de pouco mais de 20.000 habitantes, em sua maioria descendentes de colonos italianos. Pouco conhecido no Brasil, inclusive em Urussanga, Baldin se encaixa também no dito popular “santo de casa não faz milagre”.
Goulart também não o conhecia. Mas as artimanhas do destino (ou do Altíssimo?) fizeram o documentarista se deparar com um LP esquecido em uma estante da casa de uma amiga em Nova York, cuja capa estampava a foto da Igreja Matriz da terra natal. Atraído pela imagem da igreja onde foi sacristão, Goulart reparou que havia também na capa a foto de um desconhecido. E nasceu a ideia do filme, que iria surgir a partir de uma fita deixada por Aldo poucos dias antes de sua morte, em que pretendia narrar sua trajetória.
Depois de 14 anos de muita dedicação e de muitas viagens, de entrevistas com familiares, amigos, cantores, professores e alunos de Aldo, aqui e na Alemanha, de coleta de farto material sonoro e imagético fornecido pela violinista Irene Flesch Baldin, viúva do tenor e fiel guardiã de seu legado, de encontros com expoentes da cena musical, como Sir Neville Marriner, Rolf Beck, Gerd Albrecht, Isaac Karabtchevsky etc, Goulart nos entrega – junto com Irene Baldin, que assina a direção musical -, uma obra importante e super premiada, muito bem costurada e dividida didaticamente em sete atos, que na certa possibilitará a formação de plateias e incentivará novos talentos.
Mas, afinal, quem foi Aldo Baldin? De Urussanga para o Rio e para o mundo, foram muitas as vicissitudes que enfrentou, antes de conhecer Karajan, cantar com Fischer-Dieskau, etc. Dono de uma voz belíssima e grande musicalidade, Baldin perseguiu com grande determinação e paixão intensa o sonho de tornar-se quem foi, e será sempre, graças às centenas de gravações que deixou.
“Eu explico”, diz Isaac Karabtchevsky, quase no final. E explica muito bem a carreira e a personalidade de Aldo Baldin, notório intérprete de Bach, nos papéis dos Evangelistas de A Paixão Segundo São João e A Paixão Segundo São Mateus.
Sugiro que vejam o filme e aproveitem a oportunidade única de ouvir Baldin nas salas de projeção. Ouçam os depoimentos, atentem nas palavras de Karabtchevsky. É um filme comovente, bonito de ver, de sentir, de ouvir e de refletir assim: o Brasil precisa conhecer o Brasil.
Eneida Santos
Professora e tradutora de inglês, melômana
>> Aldo Baldin – Uma Vida pela Música eatá nos cinemas.

