Uma autista no espelho social

UMA MULHER DIFERENTE

O drama de uma pesquisadora para documentários que se descobre autista veicula uma mensagem acautelatória sobre o handicap da França em relação ao espectro do autismo. No pano de fundo, uma discussão sobre a falta de um maior apoio do estado às pessoas afetadas, sobretudo quando se compara com outros países da Europa, como os escandinavos. Mas a crítica se estende também à dificuldade das famílias em lidar com uma síndrome diversificada e sujeita a preconceitos.

Katia (Jehnny Beth) se sente sempre ameaçada de demissão da produtora onde trabalha. Ela não consegue se adaptar ao modelo “open space”, em que todos trabalham juntos numa grande sala. Seu histórico de demofobia e timidez excessiva a inquieta. Quando é escalada para colaborar num projeto de documentário sobre autismo, Katia se coloca no lugar de paciente.

O diagnóstico, afinal, vai surtir um efeito duplo: ao mesmo tempo que provoca um encontro consigo mesma, dando um nome a sua “diferença”, dispara uma paranoia social e atrai certas incompreensões, abalando em especial sua ligação com o namorado e a mãe. Por boa parte do filme, Katia e Fred estão discutindo sua relação face aos desencontros do cotidiano.

A diretora Lola Doillon (filha de Jacques Doillon e esposa de Cédric Klapisch) buscou suporte especializado, incorporando ao elenco a psicóloga social Julie Dachez, ativista dos direitos dos autistas. Ela faz um papel semelhante ao seu na vida real. A atriz Jehnny Beth comunica em minúcias a inquietação, as oscilações de humor e os medos de Katia. Ela tem plena consciência de sua circunstância, o que pode tanto ser útil quanto aflitivo para si e para seu entorno.

Uma Mulher Diferente (Différente) trata também de desemprego, tema frequente no cinema francês dos últimos tempos. Não tem o diferencial que o eleve acima da média, mas toca em questões delicadas da vida social em tempos de inclusão.

>> Uma Mulher Diferente está nos cinemas.

Trailer

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