Luzes de Ferlinghetti

O ÚLTIMO BEAT na Mostra de Cinema de SP

por Paulo Lima

O poeta Lawrence Ferlinghetti não se considerava um beatnik, mas acabou se mostrando muito importante para o movimento cultural que transformou a cultura americana.

Ao fundar nos anos 1960 a lendária livraria City Lights (Luzes da Cidade), em São Francisco, Ferlinghetti contribuiu para aglutinar os interesses daquela vanguarda artística.

Ele foi o primeiro editor a publicar o poema “Uivo”, de Allen Ginsberg, que representou um grande terremoto estético na poesia dos Estados Unidos.

A história do homem, poeta e editor Ferlinghetti é o que conta o documentário “O Último Beat” (The Beat Bomb), incluído na programação deste ano da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

O filme do diretor italiano Ferdinando Vicentini Orgnani é uma colagem de diferentes momentos do seu personagem, na Itália e nos Estados Unidos, ao longo dos últimos anos de vida de Ferlinghetti, que morreu em 2021 com a idade de 102 anos.

O mais longevo poeta estadunidense foi também o mais anarquista. No filme é o próprio Ferlinghetti que narra sua vida e seus feitos em conversas com o diretor. Complementa a estrutura do documentário os testemunhos de outros poetas, alguns famosos, como Jack Hirschman, e de amigos e até de anônimos que um dia puderam contracenar com Ferlinghetti.

O clima é de celebração em torno da obra e da figura do poeta, entremeado por um tom de rememoração e nostalgia. Amigos e poetas festejam nos Estados Unidos e na Itália, através de saraus, a memória de Ferlinghetti, que era de origem italiana.

Os momentos mais marcantes do documentário recaem sobre os depoimentos do próprio poeta, que reconstrói sua história e a história da Beat Generation e seus mais icônicos representantes, como Jack Kerouac, Allen Ginsberg e Gregory Corso, dos quais Ferlinghetti conta casos impagáveis, como os roubos de livros que Gregory Corso praticava contra a City Lights, aos quais Ferlinghetti fazia vista grossa, por pura amizade.

Num desses roubos, ele chegou a alertar Gregory Corso de que a polícia estava à procura dele, fazendo com que o poeta fugisse para a Itália e por lá permanecesse algum tempo.

Para os leitores e admiradores de Lawrence Ferlinghetti, o documentário não deixa de representar uma espécie de poema de despedida, já que o poeta partiria um ano após a conclusão do filme.

Paulo Lima

>> “O Último Beat” pode ser assistido gratuitamente na plataforma Spcine, mediante cadastro, neste link.

 

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