Modigliani, seus amores, suas cores

MALDITO MODIGLIANI

O volume de informações transmitido por um documentário pode ser uma faca de dois gumes. É o caso de Maldito Modigliani (Maledetto Modigliani), que se anima a contar a vida e todas as questões que envolvem a obra de Amedeo Modigliani (1884-1920). O filme, de 2020, foi feito para marcar a passagem do centenário da morte do pintor.

A diretora Valeria Parisi faz um trânsito constante entre a documentação stricto sensu – entrevistas, filmagens dos quadros e esculturas, arquivos de época – e vinhetas encenadas que pretendem sobretudo ilustrar os amores de Modigliani. A dramatização sem palavras assume feições de uma elegância ligeiramente cafona. A narração principal, deslocada para os dias de hoje, é de Jeanne Hébuterne (voz de Maria Magdalena Hoer, corpo de Caterina Fantetti), a última companheira, que se atirou de uma janela aos 21 anos, apenas dois dias após a morte do pintor aos 35.

Especialistas, historiadorxs, curadorxs de museus, um falsificador e o cineasta Paolo Virzi enfileiram considerações sobre o estilo e a história pessoal de “Modi”: de um lado, os contornos bem definidos das figuras, os pescoços de cisne, os olhos sem pupilas (voltados para dentro de si), os nus femininos, as cariátides sem nada para sustentar, a mistura de influências primitivistas com as formas clássicas; de outro, a vida curta, pobre e agitada por drogas e álcool, finalizada pela tuberculose. Enfim, uma típica história de artista trágico da virada do século XX.

Judeu de Livorno, Modigliani foi buscar sucesso em Paris, mas, em vida, nunca chegou a vender um quadro por mais de poucas dezenas de francos. A fama veio post mortem, quando marchands e falsificadores passaram a usufruir de sua reputação. Um dos aspectos cobertos pelo documentário são as inúmeras falsificações existentes de seus quadros. Um letreiro de encerramento até isenta o filme de responsabilidade quanto à autenticidade das obras mostradas.

Maldito Modigliani faz seu trabalho com afinco, mas o excesso de dados, nomes e digressões o torna um tanto dispersivo. As inserções na atualidade, nos ateliês em que ele trabalhou ou nos museus que guardam sua obra, contribuem para a overdose de informações. Um recorte faria bem a um filme que, nem por isso, deixa de ser interessante para os amantes da arte.            

>> Maldito Modigliani está nos cinemas.

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