O CASTIGO
Dois minutos apenas podem mudar completamente a vida de uma família. É o que acontece quando Ana (Antonia Zegers) e Mateo (Néstor Cantillana) deixam o filho de sete anos à beira de uma estrada como castigo e, ao voltarem dois minutos depois, o menino havia desaparecido. Enquanto eles tentam encontrá-lo na mata, vai se revelando uma grave discrepância no casal quanto à maneira como cada um encara o filho portador de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade).
Pode ser que alguns espectadores se vejam, eles próprios, de castigo, uma vez que o filme do chileno Matías Bize, em coprodução com a Argentina, se passa inteiramente em um único local. Quem não tiver a informação prévia, talvez nem perceba que tudo se dá em um único plano-sequência de 86 minutos, tal é a perícia na condução dos atores e no trabalho de câmera de Gabriel Díaz. No curso desse tempo real, somos capazes de assimilar tanto as razões do pai, que se recusa a admitir o transtorno do menino e tenta compensá-lo com amor, como da mãe, que vem sacrificando sua vida pessoal pelo desvelo materno.
Com a chegada de policiais para ajudar na busca, o atrito entre verdade e mentira leva Ana e Mateo a um limite de tensão e desespero, culminando com uma das mais duras e verdadeiras confissões de uma mãe. A performance refreada de Antonia Zegers é dolorosamente devastadora. O diretor sabe administrar a agudeza dos diálogos e a eloquência dos silêncios para chegar a uma peça (cabe aqui o termo teatral) de fundo alcance psicológico.
Soa um pouco estranho só ter passado um carro naquela estradinha em quase uma hora e meia, assim como as buscas se concentrarem somente de um lado do caminho. Mas isso é irrelevante face à potência do filme.
>> O Castigo está nos cinemas.
O trailer, que obviamente conspurca o plano-sequência:



