
Pierre Baitelli e Malu Rodrigues em "O Despertar da Primavera"
As montagens de Charles Moeller e Claudio Botelho estão conseguindo desmentir uma noção que pautou por muito tempo as discussões sobre o que seja a nossa identidade nacional: a incapacidade de copiar.
Paulo Emílio Salles Gomes via nessa incapacidade o grande trunfo da chanchada. Como não tínhamos condições técnicas e artísticas de fazer filmes de gênero como Hollywood, então partíamos para a avacalhação. Matar ou Correr, para os westerns. Nem Sansão, nem Dalila, para os épicos bíblicos. Antropofagicamente, devorávamos a cultura estrangeira e cuspíamos a sátira. Debochávamos de nós mesmos e perseguíamos assim o sucesso.
Nada mais distante dessa lógica do que a versão brasileira do musical O Despertar da Primavera, atualmente em cartaz no Teatro Villa-Lobos, no Rio. A impressão de cópia é inevitável e assumida. A peça emula signos comuns da ópera rock sobre rebeldia e sacrifício juvenis, como Hair, Tommy, The Wall. A leve erotização das meninas lembra os ensaios do fotógrafo de ninfetas David Hamilton. O elenco canta em português, mas com uma ênfase de pronúncia e tonalidade muito próxima do canto da Broadway.
É um pastiche, sim, mas só os muito ranzinzas encontram motivos para reclamar. A graça e a competência com que tudo é feito torna praticamente impossível qualquer rejeição. E basta ler o texto de apresentação da peça para compreender que, em meio a toda imitação, há boa dose de autoria e diferença. Por isso saímos orgulhosos do teatro, tocados por uma aura que só possuem os espetáculos quase perfeitos, da primeira cena até o apagamento das últimas luzes do palco.
Além de fazer um teatro autenticamente original (Zé Celso, Antunes, Aderbal etc), também sabemos copiar o que é bom.
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toma vergonha na kra!!!!!!!!!!!!!
Faltou explicar o motivo da recomendação, Sr. Silvio Darley (gato).