Anjos do arrabalde
Eva Bianco, Victoria Raposo e Adelia Sanchez dividiram o prêmio de melhor atriz na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes deste ano pela atuação em Los Labios. Para elas, deve ter sido uma experiência fascinante atuar como assistentes sociais interagindo de fato com os moradores de uma pequena e pobre cidade do interior da Argentina. Elas passam veracidade nas conversas e contatos físicos com os não-atores do lugar, famílias carentes que se dispuseram a vivenciar o jogo de cena proposto pelos diretores Santiago Loza e Ivan Fund.
Para o espectador, no entanto, em que pese o talento das atrizes, o filme não chega a se realizar como experiência. A interação com os habitantes limita-se às consultas e coleta de informações sobre os meios de vida e as carências locais, além de uma sequência deslocada e gratuita numa noitada de bar. Entre as três, pouquíssimo se concretiza como conhecimento mútuo e formação de laços. O roteiro elimina qualquer informação sobre elas, investindo numa vaga fórmula de forasteiros que chegam a uma comunidade e que tampouco se conhecem entre si.
Resta uma sucessão de atos desses anjos do arrabalde, cujas vidas nos são negadas e cujas personalidades mal se insinuam através de silêncios artificiais e inquietações sugeridas de maneira confusa. Um pouco menos de pretensão e depressão, e um pouco mais de radicalidade poderiam levar a bom termo essa proposta que tinha lá seu interesse.
Esse filme não pode ser pior do que “Invenção da Carne” do mesmo diretor onde pretensão de mau hálito intelectual perpassa o filme em tédio infinito. Close de vagina na abertura agora é cult? Me poupem… Quem será que tinha boa expectativa sobre este filme?
Felizmente me poupei desse. Tudo o que vi do Loza até hoje me entediou.