Tempos modernos

CARNE, OSSO
de Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros

Chaplin nos faz rir e pensar com aquelas cenas antológicas de Tempos Modernos em que o operário corre contra a velocidade da esteira da fábrica e depois sai pela rua repetindo o movimento obsessivamente. Não é diferente, nem comédia, a realidade dos trabalhadores de frigoríficos brasileiros mostrada em Carne, Osso. Um letreiro na abertura nos adverte: nenhuma cena sofreu alteração de velocidade. As linhas de trabalho nos frigoríficos, onde operários devem realizar até 120 movimentos manuais por minuto, sob pressão das metas de produtividade, são literalmente de enlouquecer. E enlouquecem.

O filme é produzido pela Repórter Brasil, uma ONG dedicada à denúncia de condições trabalhistas nocivas, inclusive trabalho escravo. Enfoca frigoríficos (não identificados) do sul do país e abatedouros do centro-oeste, onde a insalubridade, a incidência de doenças psíquicas, membros decepados ou atrofiados convivem com a impunidade das empresas e a sobrecarga do sistema previdenciário. Em discussão, o custo humano da produtividade.

Bem-acabado no modelo clássico do doc de denúncia, Carne, Osso busca seu efeito combinando estatísticas e falas humanas emocionadas. Acaba criando um potente e dramático paralelo entre os animais que vão sendo progressivamente desmembrados e desossados nos frigoríficos, e os próprios trabalhadores vitimados pelo ritmo implacável da máquina fordista.

Deixe um comentário