por Paulo Lima
O documentário musical O Último Tango, produção teuto-argentina dirigida por German Kral, conta a história pessoal e artística do casal de dançarinos María Nieves e Juan Carlos Copes, dois grandes símbolos do tango argentino.
O que esperar de um filme que se proponha a explorar esse tema? Naturalmente, que tenha muito tango, como a maioria dos filmes sobre o assunto.
Quem vai assistir ao documentário não se decepciona. A plasticidade das cenas de dança é de uma beleza magnetizante, graças sobretudo à maestria de seus personagens.
Mesmo exibindo uma história poderosa, “O Último Tango” poderia ser mais um filme edulcorado pela atmosfera retrô e sedutora dessa dança e de Buenos Aires.
Mas não é. María Nieves e Juan Copes se conheceram ainda jovens numa das inúmeras casas de milonga que existiam na capital portenha. Acabaram formando uma parceria de sucesso no amor e no palco. Mas com o tempo a relação desandou sob os dois aspectos, e hoje os dois octogenários passam suas vidas a limpo.
O que torna o documentário engenhoso, a meu ver, é a solução dramatúrgica para reproduzir o casal na juventude. Atores e atrizes, igualmente tangueiros, interpretam María e Juan em cenas de raro encantamento.
A partir dessa solução, contudo, o filme envereda por um curioso paralelismo, no qual vemos María conversando sobre seu passado, num colóquio envolvendo as outras Marías que a interpretam.
Isto provoca uma mescla de elementos reais e ficcionais que transmite a estranha impressão de ubiquidade da María Nieves real.
A partir dessa estranheza, o documentário logra acrescentar uma “coreografia” um tanto diferente, dando alguns passos além de outros filmes que também visitaram o tema.
O “Último Tango” é, assim, um grande deleite para os olhos e a alma.
Paulo Lima

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