Rosemberg – Cinema, Colagens e Afetos é bem mais que um perfil de cineasta. É um diálogo que se estabelece entre duas gerações abertas à invenção e à livre manipulação do material cinematográfico. De um lado, o veterano e sempre inconformista Luiz Rosemberg Filho. De outro, Cavi Borges e Christian Caselli, dois legítimos representantes de uma forma nova, irreverente e independente de fazer cinema brasileiro.
Logo no início vemos o célebre close do Cidadão Kane pronunciar “Rosemberg” em lugar de “Rosebud”. É uma espécie de senha para o estilo de colagem e reapropriação de imagens que o filme coloca em sintonia com o próprio trabalho de Rosemberg. As colagens de Rô ganham vida na animação de Caselli e contaminam a estruturação dos materiais, sejam eles fotos ou cenas de filmes. Sempre em off, Rosemberg fornece pitadas de sua biografia e, mais que tudo, não se furta a descrever, comentar e contextualizar seus principais filmes. Fala de sua influências, confessa o “defeito” de gostar de musicais americanos e insere suas habituais perorações contra o império do trabalho obrigatório, do consumo, das religiões, da televisão idiotizante, etc. A defesa de uma forma de vida livre dessas amarras se reflete no caráter de contestação de sua obra, tanto na forma quanto no conteúdo.
Dinâmico, atraente e fluente, o filme de Cavi e Christian vale como uma esplêndida introdução ao universo rosemberguiano. Nasceu há pouco e já virou item de primeira necessidade.