Bobby, Eddy e David foram trigêmeos nascidos em 1961 e separados aos seis meses de idade, adotados por três famílias de classes sociais distintas. A forma como eles um dia se descobriram por acaso já seria assunto para um filme, mas Three Identical Strangers vai muito, muito além disso.
Esse documentário do britânico Tim Wardle, premiado em Sundance e outros festivais, ostenta uma notável perícia na revelação gradual das muitas camadas dessa história incrível. A princípio, somos arrastados pela graça e as emoções dos encontros. Reunidos aos 19 anos, os rapazes iniciaram nova vida sob os holofotes da mídia e com o gás da juventude. Tornaram-se figuras pop, apareceram em incontáveis programas de TV e num filme da Madonna, abriram um restaurante de sucesso no Soho nova-iorquino com um nome inevitável: Triplets (Trigêmeos).
Aos poucos, porém, o roteiro de Wardle começa a desvendar as áreas sombrias por trás da festa familiar. Para não estragar o prazer de quem vai ver o filme, limito-me a dizer que uma trama de coloração nazista vai se revelar no seio da comunidade judaica de Nova York. Não foi por mero acaso que Bobby, Eddy e David tomaram caminhos tão diversos. E havia quem soubesse de tudo.
O lugar da mãe biológica e das três famílias de adoção nessa história toda é motivo de indagações que vão aos poucos sendo respondidas, embora só até certo ponto. Pela primeira meia-hora de filme nos perguntamos também por que Eddy custa a aparecer em depoimento na atualidade.
Para além da curiosidade envolvendo os três irmãos, o documentário levanta uma discussão sobre tema crucial da vida humana: até que ponto nosso temperamento e maneira de ser são determinados pela Natureza ou influenciados pela nossa formação familiar e cultural? Tendemos a ver os gêmeos somente por suas semelhanças, o que os três rapazes tinham em dose espantosa e divertida, mas quase nunca reparamos no que elas encobrem de diferenças e dissonâncias.
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