JORGINHO GUINLE – $Ó SE VIVE UMA VEZ
Era dura a vida do playboy quando existiam playboys. Imagine o que era dormir somente ao final de cansativas noitadas, aturar a companhia de celebridades e viver daqui para ali em mansões, aviões e celebrações. Jorge Eduardo Guinle (1916-2004), herdeiro de família bilionária, passou por todas essas provações com fair play impecável, sem nunca reclamar. Até que, por um erro de cálculo, viu-se sem a mesada do pai, sem mais dinheiro em caixa e nem a confiança do próprio banco da família. Terminou a vida num modesto apartamento da Gávea, mas fez questão de morrer num quarto do “seu” Copacabana Palace.
Sua biografia chega às telas pelas mãos de Otavio Geminiani Escobar num blend engenhoso de encenação e documentário. Embebido em música glamourosa do início ao fim, o filme faz jus ao personagem com uma abordagem nada moralista e repleta de bom humor, às vezes na fronteira da sátira. Uma narração em primeira pessoa conduz o espectador através dos anos de glória e decadência de Jorginho. Imagens de arquivo e depoimentos conjugam-se com reconstituições interpretadas por Saulo Segreto, Guilhermina Guinle (a sobrinha-neta no papel da bisavó homônima), Letícia Spiller e outros. Daniel Boaventura e Kenya Costta estrelam cenas musicais um tanto deslocadas da narrativa, mas que contribuem para o clima sophisticated da ambientação.
Aquilo era outro país, no qual as classes não se tocavam e era possível ser esnobe em paz. Sem nunca bater ponto em qualquer trabalho, Jorginho esfalfava-se no estudo dos filósofos e no consumo de caviar. Como representante da política da boa vizinhança entre Vargas e os americanos, teve acesso à intimidade de estrelas de Hollywood e à cama de Marilyn Monroe.
Perder tudo aquilo foi um baque que ele enfrentou com galhardia. Mas uma fala (documental) de Maria Helena Carvalho, sua terceira e última esposa, exprime à perfeição o sofrimento por que passa um membro da elite brasileira ao perder o acesso aos melhores champagnes e à Maison Chanel. É de cortar o coração…
JORGINHO GUINLE – $Ó SE VIVE UMA VEZ segue o modelo que os americanos chamam de “from rich to rags” (da riqueza aos trapos). Não faz julgamentos, mas tampouco tenta dissimular a vacuidade da vida do playboy. Há mesmo o depoimento de um ex-companheiro do filho, também Jorginho Guinle, que desdoura a imagem do ex-sogro.
A encenação às vezes fraqueja e as passagens da cor ao preto e branco parecem aleatórias, mas nada disso prejudica a fluência e o humor, frequentemente irônico, que a tudo comanda. A trilha musical, reunida pelo veterano Guto Graça Melo, é um dos trunfos que fazem do filme um mergulho delicioso na boa vida de antigamente.
Texto, roteiro e direção impecáveis.
Um “docudruma” que retrata com
sofisticação e bom humor, o auge do poder e a decadência de uma das famílias mais poderosas deste país, através do seu membro mais
charmoso e único: Jorginho Guinle.
Imperdível!
A crítica está excelente. Agora só falta assistir ao filme…Pena só que eu achava que o Guinle fosse admirável , por ser o vagabundo perfeito . Mas parece que o filme desmente.
Fiquei curioso paca. Jorginho já decadente costumava frequentar um restaurante japonês na praia de Botafogo, eu me dava o presente de comer lá pelo menos uma vez no mês. Jorginho sempre aparecia, não resisti, você me conhece, e falei pra ele: você está comendo no porão da casa de sua vó, o restaurante era no subsolo. E ele me agradeceu pela lembrança, contou casos vividos ali. Meu momento de bon vivant! Vou esperar passar na TV nay chega aqui no sertão! Bj
Gostei!