Sentimentalismo rodoviário

O ÚLTIMO ÔNIBUS

Mais melancólico que enterro de criança, O Último Ônibus (The Last Bus) segue a via crucis rodoviária de um idoso aposentado de um extremo a outro da Grã-Bretanha. O percurso de 1.400 km entre John o’ Groats (norte da Escócia) e Land’s End (sul da Inglaterra) é um clássico britânico para atletas do ciclismo, do hipismo ou das caminhadas. Mas Tom Harper (Timothy Spall) quer vencê-lo numa sucessão de ônibus regionais para cumprir uma promessa feita à esposa recém-falecida. Não custa muito adivinhar o que ele leva numa maleta enquanto volta à cidade da Cornualha onde a felicidade do jovem casal foi um dia atravessada por um trauma igualmente previsível.

Timothy Spall costuma ser citado como o grande (ou único) trunfo do filme do diretor escocês Gillies MacKinnon. O veterano ator capricha na interpretação de um homem frágil, trêmulo e titubeante, mas firme nas atitudes. O problema é que sua atuação acaba se tornando simplesmente macambúzia, tal é a insuficiência de um roteiro estudantil.

A viagem de Tom o faz confrontar-se com a própria diversidade humana: agressores, sádicos, bullyers, desesperados, mas também gente solidária e carinhosa; crianças, brancos, negros, gays, muçulmanos e até uma calorosa família de ucranianos pontuam as estações da via crucis. No trajeto, já com a saúde debilitada, Tom sofre acidentes, toma as dores de oprimidos, conserta veículos e é consagrado nas mídias sociais como o #heróidoônibus.

Tudo isso se dá através de situações bastante artificiais, sempre no sentido de frisar a vulnerabilidade de Tom e ao mesmo tempo a sua fibra e determinação. O resultado é por demais patético e filmado sem qualquer imaginação. Não é preciso dizer que os flashbacks e cruzamentos do passado com o presente respondem pelo lado supostamente criativo de O Último Ônibus. Na verdade, só acentuam o sentimentalismo de um filme pequeno e ultrapassado.

>> O Último Ônibus está nos cinemas.

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