Cineduc: Ensinando a produzir sentido

Neste sábado, 2 de setembro, a incansável Marialva Monteiro lança seu livro Cineduc – História e Memória, que aborda mais de 50 anos de vivências nessa instituição que ela ajudou a criar e tornar imprescindível. Eu tive a honra e o prazer de assinar o prefácio, que transcrevo abaixo.

Aliás, já é tempo de ganharmos uma reedição de Cinema: Uma Janela Mágica, livro de Marialva e Bete Bullara que se mostrou uma contribuição inestimável para a formação de jovens espectadores de cinema.   

Quando surgiu o Cineduc, em 1970, a cultura audiovisual de massa se impunha na sociedade brasileira com força avassaladora. Em contrapartida, o cinema autoral também vivia seu apogeu, com os influxos dos Cinemas Novos no Brasil e no mundo, a Nova Hollywood e a explosão das vanguardas. Mais que nunca, compreender a linguagem do cinema era fundamental para lidar não só com a arte, mas com a própria realidade.

Desde cedo, esse bravo grupo de educadores se empenhou na missão de criar plateias ativas e críticas para aquela nova configuração do mundo. As crianças já então recebiam uma quantidade imensa de informação, sendo submetidas a uma verdadeira avalanche de imagens. O volume, porém, nem de longe significava qualidade. Alfabetizá-las visualmente era dotá-las das ferramentas produtoras de sentido. Ensinar como o binômio imagem-som se produz e como representa o mundo era promover discernimento e proporcionar crescimento intelectual, emocional e de cidadania.

Eu tive o prazer de testemunhar diversos momentos desse trabalho de formiga com que o Cineduc preparou gerações nesse sentido. Quando dirigia o setor de cinema e vídeo do Centro Cultural Banco do Brasil, vivenciei de perto as memoráveis tardes de fins de semana com a Sessão Criança. Colegiais e famílias acorriam ao cinema na certeza de encontrar uma seleção de filmes atraente e consistente, acompanhados sempre da preleção esclarecedora do pessoal do Cineduc.

Essa atividade persistente de janeiro a dezembro tinha seu ápice, uma vez por ano, no pioneiro Cinema Criança – Festival Internacional de Filmes para a Infância e Juventude, que transformava o CCBB num grande playground cinematográfico.

Como esses eventos, muitos outros, em vários estados brasileiros, consagraram a marca Cineduc como índice de excelência na formação de público para o audiovisual. Não foram poucas as crianças e jovens que passaram por suas aulas e oficinas antes de se tornarem realizadores importantes para o cinema brasileiro. Outros tantos e muitos aprenderam ali a ter uma melhor relação com a massa de signos que invadia o seu cotidiano e suas formas de diversão.

Este livro chega em boa hora para consolidar a inestimável contribuição do Cineduc à cultura brasileira. Nem os próximos 50 anos serão suficientes para saldar nossa dívida de gratidão.

Um comentário sobre “Cineduc: Ensinando a produzir sentido

Deixar mensagem para Fatima Paes Costa Cancelar resposta