DE QUANTA TERRA PRECISA O HOMEM?
Nem só de terra vive o MST. Para se transformar num grande fornecedor de alimentos orgânicos e no movimento social mais bem sucedido do Brasil, o MST precisa também de capital e de ser compreendido por parcelas cada vez maiores da sociedade brasileira. Empenhado nisso estão o Instituto Conhecimento Liberta (ICL) e seu criador, o economista Eduardo Moreira.
O documentário De Quanta Terra Precisa o Homem? (título retirado de um conto de Tólstoi) é uma produção do ICL, e Eduardo é o seu âncora. No filme, ele explica como rompeu com o mercado financeiro e passou a usar seus conhecimentos na orientação de pequenos investidores e na promoção de projetos educacionais. “No mercado financeiro eu era considerado um cara estranho, que ria demais. Agora sou um cara estranho de esquerda”.
Conhecer a fundo o MST o ajudou nessa metamorfose. Ele revisita alguns assentamentos e cooperativas no sul do país, seguido pela equipe do documentário com direção de Adilson Mendes. Eduardo, porém, não é a estrela do filme, mas sim os integrantes e líderes do movimento, que falam sobre como atravessaram os tempos duros de acampados, resistindo às pressões do estado e do latifúndio, até se estabelecerem como produtores hoje fundamentais para os ideais de sustentabilidade no setor rural mediante a agroecologia.
Além dos testemunhos de lavradores e organizadores do movimento, o filme colhe depoimentos de Lula, Luiz Gonzaga Belluzzo, Marvin Chomsky, Danny Glover e outros sobre sua admiração pelo MST. À imagem de “invasores de terras” e “comunistas”, difundida na mídia empresarial e nos bolsões da extrema-direita, o documentário contrapõe a realidade de uma cultura comunitária que valoriza a família, a educação e o respeito pela natureza. O modus operandi dos assentamentos demonstra a maturidade alcançada pelo MST em 40 anos de ação.
Não sabemos até que ponto as comunidades retratadas no filme, localizadas no Paraná e no Rio Grande do Sul, representam o conjunto do MST espalhado pelo Brasil. Mas o que se vê ali, na contramão do perfil mais conservador daqueles estados, expressa bem o potencial do movimento para instaurar uma consciência alternativa à do agronegócio e do capitalismo sem alma.
As cooperativas mecanizadas, os Armazéns do Campo e a Finapop (empresa de financiamento popular da produção do MST) são exemplos vitoriosos de como escapar do sistema dominante e dos bancos, definidos esses como máquinas de produzir e perpetuar desigualdades. As vozes ouvidas no filme sustentam ser essa uma forma efetiva e responsável de modernizar o campo.
A auto-estima demonstrada pelos assentados em De Quanta Terra Precisa o Homem? se justifica nas imagens colhidas por Adilson Mendes. Lavouras vistosas, silos bem equipados e gente confiante e sorridente dão forma a uma utopia que se realizou. No horizonte por conquistar ainda estão a reforma agrária e um melhor discernimento dos brasileiros a seu respeito.
>> De Quanta Terra Precisa o Homem? está nos cinemas.

