Páginas de futebol e política

PLACAR, A REVISTA MILITANTE

Ricardo Corrêa, um dos diretores desse documentário, foi office boy e mais tarde editor responsável pela revista Placar. É natural, portanto, que Placar, a Revista Militante seja produto de uma cria lambendo sua criadora. Não esconde, por exemplo, que a equipe pediu a Pelé que falasse uma frase em louvor da publicação, o que dá margem a uma divertida sequência final.

Além do rei, também estão no filme Afonsinho, Zico, Casagrande e Falcão para reconhecer a importância da revista na promoção dos craques e do próprio esporte no Brasil. Mas essa é apenas uma das vertentes que o filme explora. Como adianta o título, destaque igual ou maior vai para o posicionamento da Placar na tabelinha entre o futebol e a política.

Beneficiando-se de ser uma revista esportiva, a Placar driblava a censura contrabandeando temas políticos para suas páginas de futebol. Episódios como a defesa de Afonsinho na luta pelo passe livre, o alinhamento com a Democracia Corinthiana e as campanhas contra a cartolagem dão mostras da militância da revista sob a batuta progressista de Juca Kfouri. É ele, com sua palavra fervorosa, que levanta as bolas para o filme matar no peito. Outros veteranos e jovens jornalistas relembram histórias célebres como a momentosa foto de Pelé com a camiseta das Diretas Já ou a longa investigação de Sérgio Martins e Ronaldo Kotscho que revelou a máfia da Loteria Esportiva, tiro fatal num sistema de apostas que a própria Placar havia ajudado a fomentar. A revista transcendia o esporte e às vezes emparelhava com a Veja, com a qual dividia o prédio da editora Abril.

Os desafetos, assim como a fase meio misógina da publicação, não deixam de ser abordados. A repórter Martha Esteves, única mulher a dar a cara no filme, se diz incomodada com a erotização da mulher na fase “futebol, sexo e rock and roll”, mas não desafina do coro de orgulho entre todos os que passaram pela redação.

Sem fugir ao modelão cabeças falantes + fotografias, o documentário faz um bom serviço de memória que também transcende a esfera esportiva. Esteticamente, pisa na bola ao enquadrar mal seus entrevistados, muitas vezes deixando o reflexo das ring lights dançar nas lentes dos óculos. Mas, ora bolas, na hora do gol, pouco importa se o drible é feio. Ricardo Corrêa e Sérgio Xavier Filho botaram a redonda na rede.

>> Placar, a Revista Militante está nos cinemas.

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