Há muito não se falava em Jean Vigo por aqui. Lá se foi o tempo das cinematecas e cineclubes onde Zero em Comportamento, L’Atalante e A Propos de Nice eram programas obrigatórios, lufadas inspiradoras para o cinema de invenção. Mesmo o famoso livro de Paulo Emílio Salles Gomes, escrito na década de 1950 e saudado como “exemplar” por ninguém menos que André Bazin, andava há muito desaparecido das livrarias.
Tudo isso foi corrigido de uma vez só pela editora Cosacnaify com o lançamento de uma caixa contendo dois livros e dois DVDs. Jean Vigo, o livro, é o primeiro e definitivo estudo da vida e da obra do cineasta por Paulo Emílio. São 500 páginas de textos e fotos. Uma empreitada que serve de modelo para quem quer enxergar a obra de um artista para além do seu volume. Vigo viveu apenas 29 anos (1905-1934) e não fez mais que quatro filmes. Mesmo assim, o livro do crítico brasileiro ajudou a colocá-lo no panteão dos grandes autores do cinema.
O segundo livro, Vigo, Vulgo Almereyda, é um perfil do pai de Vigo, conhecido como Miguel Almereyda (1883-1917, portanto também de vida curta). Foi durante a pesquisa sobre o cineasta que Paulo Emílio acabou se interessando também pela vida do seu pai, um militante anarquista e socialista cuja importância na formação do filho foi maior que na média dos pais.
A empreitada editorial, coordenada por Carlos Augusto Calil, se completa com a íntegra da obra cinematográfica de Vigo em dois DVDs. Os extras são igualmente preciosos: além das tradicionais fotos e textos, incluem o doc sobre Vigo na série Cineastes de Notre Temps e entrevistas com Calil, Ismail Xavier, Antonio Candido, Lygia Fagundes Telles e François Truffaut.
Resumindo: Vigo está novamente em vigor no Brasil.