Julio, o homem que amava o cinema

No tsunami de notícias tristes que temos recebido nesse período nefasto da vida brasileira, uma me abalou de maneira muito pessoal. Acabo de perder um grande amigo, quase um irmão de trocas, cinefilia e solidariedade recíproca. Julio Cesar de Miranda faleceu na madrugada de hoje.

Julio era alguém com quem eu falava quase todos os dias, fosse para comentar filmes, fosse para discutir a situação política do país. Ele sofria tanto quanto eu com o fascismo instalado entre nós, mas com uma diferença: tinha sempre uma ideia milagrosa sobre como sairíamos desse buraco. Não poucas vezes me instou a ajudá-lo a mandar alguma mensagem para o Lula ou alguém do PT, com um conselho, uma recomendação, um caminho de solução. Era um dos poucos ex-comunistas que compreendiam o papel do PT no Brasil contemporâneo.

Tudo para ele era objeto de paixão e intensidade. Não só comigo, mas com uma rede de amigos que construiu desde os tempos em que administrava a histórica locadora Polytheama, nos anos 1980 e 1990, em parceria com o crítico José Carlos Avellar. Entre seus clientes fiéis estavam Nelson Pereira dos Santos, Silvio Tendler, Domingos Oliveira, o crítico e professor José Carlos Monteiro e muita gente boa do cinema. Julio atuava como uma espécie de curador de cineastas, indicando filmes e colaborando na pesquisa. Joel Pizzini e Eryk Rocha são outros que mantinham estreito diálogo com Julio na concepção de alguns de seus filmes.

Mais tarde, com a desmobilização da locadora, Julio passou a atender aos clientes em sua casa ou na sua filmoteca particular, numa sala do Largo de São Francisco, no centro do Rio. Foi curador de diversas mostras de filmes no CCBB e no SESC do Rio, além de manter um cineclube de amigos por muitos anos em sua casa na Tijuca, ao lado da mulher, Lúcia, e do filho Tiago, herdeiro de seu amor pelos filmes.

Figura de peso na cinefilia carioca, conhecido por sua generosidade e pelo entusiasmo que colocava em tudo o que fazia, Julio abre uma cratera imensa no coração de quem privou de sua companhia e amizade. De alguma maneira, ele estará comigo nos filmes que ainda verei por muito e muito tempo.

7 comentários sobre “Julio, o homem que amava o cinema

  1. Pingback: Julio Miranda presente! No MAM | carmattos

  2. Guardo um carinho especial pelo Julio. Os que fizeram parte do seu seleto grupo de sócios sabem o prazer que era chegar em casa e encontrar na portaria uma sacola de plástico preta cheia de fitas vhs, eram os filmes da semana. As conversas com o Júlio eram algo como um voo direto ao ambiente dos filmes, sempre abria portas pra pensar o cinema, a vida. Que ele descanse em paz e na luz.

  3. Acabo de ler e saber! Que triste. Nem sabia que ele estava doente…Gostava muito dele; não o via faz um tempo, mas o tempo de convivências foi bonito, fraterno e….que merda.

    Bjo

    Enviado do meu Samsung Mobile da Claro

  4. Carlos Alberto Matos sintetizou muito bem a perda do desaparecimento do Júlio. Conversávamos quase diariamente sobre cinema e a conjuntura política e social. Era uma personalidade original em suas paixões e generosidade. Deixará uma lacuna imensa no coração dos amigos e admiradores.

  5. Poxa, que choque! Perder o Sr. Julio… muito triste, nunca pensei que isso pudesse acontecer com ele, o rei da Polytheama.

  6. Nossa! Que falta o Júlio fará! Gostava muito dele. Várias vezes fui à sua casa para pegar algum filme. Muito triste!
    Marialva Monteiro

Deixar mensagem para Adriana Cursino Cancelar resposta