VOCACIONAL, UMA AVENTURA HUMANA
de Toni Venturi
Ensino público e gratuito sem distinção de classes, educação participativa voltada para formar cidadãos conscientes, disciplinas aplicadas à realidade social, às artes, à vida prática e ao trabalho comunitário… Pode ser uma utopia para o Brasil de hoje, mas já aconteceu no passado e não foi Paulo Freire. A experiência revolucionária do Ginásio Vocacional Oswaldo Aranha, repartido em três escolas no estado de São Paulo, que durou apenas de 1962 a 1970, é contada (e muito bem contada) nesse excelente doc de Toni Venturi.
Toni foi também aluno do Vocacional, e o filme é um tributo acalentado há muitos anos. Com sobriedade e franqueza ele se insere entre os que se encarregam de rememorar e avaliar suas vivências como alunos ou professores. O Vocacional está nos anos-chave da formação de uma elite da cultura e das Ciências Sociais de São Paulo. O filme beneficia-se, portanto, de uma rara clareza de enunciação, além do sentimento que transpira em cada depoimento. Da forma como o roteiro e a direção conduziram as coisas, o carinho pelo passado de cada um transcende a esfera pessoal e se transforma no elogio de um modelo – e no lamento por ter ele ficado para trás.
Quando a ditadura recrudesceu em 1968, as ousadias do Vocacional foram prontamente tachadas de subversivas e o exército entrou em cena, como na Universidade de Brasília. A fundadora Maria Nilde Mascelani (1931-1999) foi perseguida e presa. Até o professor de Técnicas de Acampamento foi tomado por guerrilheiro. São muitas e apaixonantes as histórias que emergem das falas e dos materiais de arquivo do colégio, incluindo-se aí um raro e mitológico curta realizado pelos alunos (Aloysio Raulino e Roman Stulbach entre eles), fotografado por Jorge Bodanzky e supervisionado por Maurice Capovilla e Rudá de Andrade.
Toni Venturi realiza aqui um de seus melhores trabalhos. Seu engajamento pessoal tem a medida certa, e a emoção não turva nem sabota uma narrativa extremamente coesa. Para a educação brasileira atual, é um filme radicalmente inspirador.
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Delícia de documentário! Especial assistir em companhia de tantos ex-alunos, velhos amigos, todo mundo emocionado. Parabéns Toni e equipe.