O pintor, a francesa

Notas curtas sobre ANTONIO BANDEIRA, O POETA DAS CORES e AS AVENTURAS DE UMA FRANCESA NA COREIA

ANTONIO BANDEIRA, O POETA DAS CORES

Um documentário absolutamente convencional ainda pode ser absolutamente amável. É o que demonstra Antonio Bandeira, o Poeta das Cores. Joe Pimentel reuniu depoimentos muito vivos de artistas, curadores e críticos de arte sobre a trajetória do pintor cearense que, segundo uma das participantes, “comia o mundo com os olhos”. Somou a isso uma exibição satisfatória de seus quadros e materiais de arquivo capazes de sugerir a personalidade de Bandeira e o sentimento do seu tempo.

Depois de ajudar a renovar a arte no Ceará nos anos 1940, o vistoso Antonio Bandeira ganhou uma bolsa para estudar em Paris e por lá ficou entre 1946 e 1951. Sua estada na França inspira, no filme, uma análise sagaz do estado das artes no pós-guerra, quando Bandeira migrou para o abstracionismo lírico e marcou seu lugar na arte europeia. Em Paris, era chamado de “Monsieur Drapeau”.

O resto de sua breve vida (1922-1967) ficou dividida entre o Brasil e a Europa. Pietro Maria Bardi afirmou certa feita que ele era “mais conhecido em Montmartre do que em Copacabana”. Por sua vez, a artista Maria Bonomi sustenta diante da câmera que Bandeira “adiantou o relógio do Brasil” em matéria de pintura.

Sem pretender ser mais “artístico” do que o seu objeto, o filme faz seu serviço com classe e bom gosto. O sobrinho Francisco Bandeira, também pintor, é uma voz-guia discreta e, em grande parte, um alter ego do tio em suas andanças por Paris.


AS AVENTURAS DE UMA FRANCESA NA COREIA

Hong Sang-soo volta a flertar com Isabelle Huppert 12 anos depois do ótimo A Visitante Francesa e sete anos depois do simpaticíssimo A Câmera de Claire. Agora Isabelle é uma expatriada em Seul que sobrevive dividindo um apartamento com um jovem poeta e dando aulas particulares de francês segundo um método peculiar. Ela estimula reflexões íntimas dos alunos como material de aprendizado.

Com esse fiapo de argumento, o diretor reincide nos fetiches de sempre: os diálogos e elementos repetidos, o ultranaturalismo na fronteira entre o roteiro e a improvisação, o consumo de comidas, bebidas e cigarros. As conversas abusam da tautologia a ponto de roçarem o non sense. O uso do inglês faz com que todos os personagens pareçam estrangeiros. Pequenos constrangimentos pontuam os assuntos banais como tropeços num chão absolutamente reto.

Pode-se ver alguma graça ocasional, especialmente na maneira como Isabelle interage com os outros atores, com os espaços e objetos. Mas só os mais condescendentes ou apaixonados por Hong Sang-soo verão qualidades além de uma pequena experiência de encenação. Entre esses estavam os jurados do Festival de Berlim que lhe concederam um Urso de Prata.

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